Muros esbranquiçados

No período de 26 a 29 de novembro ocorreu no CEFET-MG - Campus Timóteo o VI Festival de Arte e Cultura, com diversas oficinas, shows e mostras de arte. Uma das oficinas realizadas foi a de grafite, na qual foram pintados dois muros da cidade que foram cedidos pela prefeitura. O resultado maravilhoso pode ser observado nas fotos. O desejo dos alunos foi construir uma crítica ao preconceito tão presente na sociedade. 

Muro pintado pelos alunos do CEFET-MG - Campus Timóteo

Porém, infelizmente, os dois muros foram completamente pintados de branco. Nenhuma explicação foi dada até então (estou inclusive procurando saber qual é). Dado que havia permissão para a realização da oficina em tais locais, a impressão que fica é a de que a mensagem incomodou realmente e alguém preferiu apagá-la a encarar a realidade. 

Eu, defensora que sou da igualdade e do não ao preconceito, não pude me calar e escrevi algo a respeito, a meu modo. Arte apoia arte, e, no fundo, todos apoiamos o amor. 

Alunos e professor que ministrou a oficina

Se calarem o beijo dos loucos de amor, eu grito que aqui nesse mundo ama quem quer e a quem quer. Se prenderem a ira dos meus cachos, se selarem liso o meu black armado, eu declaro que 'em terra de chapinha, quem se assume é rainha'. Se me escravizarem devido a minha cor, me subjugarem por causa de onde venho, eu grito que a mistura fez e faz esse povo, que não somos um, mas somos todos. Se pintarem de branco os problemas, fingindo pregar a paz, eu exclamo que pode, deve e precisa ser escancarado, e não ignorado, que nada se resolve de olhos fechados. Podem tentar calar o que dizemos, fingir que não viram, abaixar a cabeça e continuar andando sempre retos, não preocupados com os outros. Mas, no fundo, sabem sim que ali embaixo daquele pano branco grita a agonia de um povo que luta pela igualdade e deseja ardentemente o dia em que a mistura será dignificada e não uniformizada.
N.M.